4. Visão geral da cultura tupinambá

Observação inicial: esta postagem está em constante processo de edição, uma vez que ela é meu próprio rascunho do que compreendo e como compreendo a cultura Tupinambá como um todo. Obviamente ela ainda não deve ser considerada uma visão completa e exaustiva do tema.

Divindades
Aparentemente os Tupinambá não tinham nada exatamente comparável com o que os ocidentais chamam de divindade. Nisso concordam vários cronistas (Jean de Léry, Yves d’Evreux e Hans Staden) com André Thevet parecendo ser o único a dizer que ao fundador Monã os Tupinambá atribuíam as mesmas perfeições que os europeus conferiam ao seu deus. Todavia, no lugar de divindade, encontraríamos então outros elementos que tomavam algumas de suas características: os *maraká, os *karaíba e o *fundador.

Fundador
Também chamado “herói civilizador”, termo que prefiro evitar, o fundador em outros povos Tupi e Tupi-Guarani é sempre um só, e comumente cognato de “Maíra”. Todavia, Thevet, que é a fonte mais completa e aproximada da neutralidade, apresenta uma genealogia mais longa deles entre os Tupinambá: Monã, Sumé, Maíra-monã, Maíra-poxy, Maíra e Maíra-atá. Aparentemente o fundador não recebeu culto, embora tenha sido entendido como um ancestral mítico do qual os Tupinambá reconheciam ter vindo. Uma possibilidade pra grande quantidade de civilizadores em Thevet é que ele tenha reunido relatos de diversas aldeias diferentes.

O fundador é essencialmente um transformador (Davi Yanomami ainda usa o termo “artista” para seu criador Omama), mudando a forma dos seres. Ele é o responsável pela *formação do mundo, e a partir deste formando os *humanos, e a partir destes os animais. Para os humanos o fundador ainda faz os principais vegetais. É o pai dos *gêmeos míticos. Parece que em tempos antigos era identificável com o sol; em outros povos indígenas da América do Sul, Central e do Norte os fundadores aparecem dessa forma, mas entre os Tupinambá essa associação entre fundador-sol parecia estar se desfazendo, e na mitologia retratada por Thevet ela já aparece associada apenas com um deles, Maíra-poxy, e ainda assim de maneira um tanto quanto hesitante.

Karaíba
O próprio fundador era entendido como um karaíba, mas vários outros humanos também. Antes da invasão já haviam vários karaíba visitando os indígenas e realizando curas, fazendo profecias, além de trazer chuvas e boas colheitas. Esses eram tidos com reverência e respeito, e eram vistos como algo entre um humano e um espírito (mas veja-se a seção *Espírito sobre como os Tupinambá entendiam isso), e não exatamente como um humano comum. Nisso tomavam uma posição de culto que Thevet chama de demy-dieux ou semideuses. Parecia estar diferenciado do *paîé por seu maior poder e por não dedicar-se a uma única aldeia. Com o tempo o nome karaíba seria associado aos portugueses, como estrangeiros visitantes, e entre povos Tupi modernos como os Kaapor cognatos como karaí são usados para se referir a brancos em geral. Entre os Guarani e outros Tupi os karaíba comumente levaram aldeias inteiras a exaustivas caminhadas em busca da *Terra sem mal.

Maraká
O maraká é um instrumento feito de uma cumbuca vazada atravessada por uma vara e com pedrinhas ou sementes dentro, adornada com pinturas, entalhes e penas. A ele eram feitas oferendas por dias até que os espíritos finalmente o tomavam como morada ou “telefone” para comunicar-se com os vivos. Aparentemente também recebeu certo culto pelo tabu com que era tratado (era feito um “santuário” para ele dentro das casas dos Tupinambá). É por ele que a voz dos espíritos ressoava. Certamente sua importância não residia em si mesmo, mas como portador ou transmissor das mensagens dos espíritos (ancestrais).

Formação do mundo
O relato de Thevet é reticente em vários pontos sobre a origem das coisas para os Tupinambá. Isso parece em especial ter sido complementado pelo fato de que os Tupinambá, a exemplo dos Tupi-Guarani modernos, possuíam estruturas míticas pouco afins com o que é comum no mundo clássico greco-romano, o paganismo melhor entendido pelos cronistas.

Aparentemente assim, os mitos Tupinambá não tratam do surgimento do mundo ab origo, a partir da origem, mas do surgimento do mundo-para-os-Tupinambá, isto é, eles não questionavam a origem última de uma realidade absoluta, inconcebível para eles, mas uma origem do mundo “dos Tupinambá”.

Thevet por exemplo conta que o mundo foi queimado e inundado para matar os humanos, mas não diz previamente de onde esses humanos vêm, e posteriormente, após o dilúvio de Arikuta e Tamandwara, diz, en passant que os Tupinambá surgem de Tamandwara e os abá que eram seus inimigos eram filhos do irmão dele, Arikuta.

As montanhas seriam resultado do incêndio que Monã mandou ao mundo, para punir os humanos, e o mar originado da água enviada para o apagar e tornar o local habitável novamente. Uma versão sem moralização aparece nos Araweté, para quem o mundo original era onde os Maï, o grupo superior de seres fundadores, vivia e então levantaram-se ao céu. As montanhas, pedras e vales seriam o resultado disso. Creio ser possível que a forma original Tupinambá da história tivesse mais em conformidade “moral” com isso que a forma apresentada por Thevet, em que o incêndio e dilúvio são punições aos humanos.

Humanos
Essencialmente os Tupinambá como todos os outros povos se concebiam como o centro do mundo e criação, e como vários outros povos indígenas, concebiam-se a si mesmos como os “humanos verdadeiros”. Isso é perceptível nas nuances do idioma Tupi antigo: abá, a palavra para “homem, ser humano” é usada apenas para os Tupinambá e menos comumente para outros povos indígenas que em geral são referidos pelo nome de seu povo (como Tupinakyîa, Tobáîara, etc.); os europeus já recebem nomes que os associam a seres não-humanos: maíra para os franceses e karaíba para os portugueses. Isso encontra semelhanças com a categoria de napë pë entre os Yanomami, no qual tanto “homens brancos” quanto “espíritos ruins” são referidos. Por assim dizer, as fronteiras do mundo e da própria humanidade eram cessadas no universo conhecido pelos Tupinambá, o além disso, em especial o que está além do oceano, era não-humano e extramundano.

Gêmeos míticos
As narrativas dos gêmeos em Thevet aparecem divididas em duas partes. Numa primeira ele relata como Arikuta e Tamandwara causaram um dilúvio por uma briga entre si, e na segunda, gêmeos nunca nomeados são citados numa passagem bem maior, desde sua concepção a partir do fundador, uma humana e um terceiro ser, até o reconhecimento da paternidade por parte do fundador. As lendas registradas entre os Tembé-Tenetehara, Apapokuva-Guarani, indígenas da Aldeia de Santa Rosa, etc., todavia, fornecem base suficiente para considerar que todas essas histórias referem-se aos mesmos gêmeos, apesar de sua aparente não-identificação no corpus Tupinambá apresentado por Thevet.

Em geral, um deles é filho do fundador e outro de um intruso, que aproveita-se da mulher do fundador quando este a deixa só e ela parte em busca dele. Thevet diz que esse humano é depois transformado em sarigwé, um cassaco, como punição. Em geral o primeiro dos gêmeos é capaz de fazer feitos incríveis, mas o segundo é um humano comum que depende do irmão pra manter sua sobrevivência, o qual ressuscita-o mais de uma vez, em algumas versões. Entre os Apapokuva-Guarani já aparecem rústicas esculturas de madeira dos gêmeos, o que pode denunciar como eles podem ser tratados na atualidade.

Entre os Tupinambá Thevet apresenta Arikuta e Tamandwara como um gêmeo bom e outro ruim; mas no segundo relato dele adiante, sobre os gêmeos não nomeados, essa dualidade parece inexistente. Ela aparece entre os indígenas da aldeia de Santa Rosa registrados no começo do século XX por Curt Nimuendaju, mas não é encontrado no relato dos Apapokuva e Tembé. Se para os Tupinambá essa dualidade era fundacional dos diferentes abá, isto é, Tamandwara, o honrado, seria pai dos Tupinambá e Arikuta, o ruim, o pai dos seus inimigos indígenas, para os indígenas de Santa Rosa um é indígena e o outro branco ― filho de um rato.

Espírito
Talvez o correto não fosse nem se usar essa palavra que deve causar mais mal-entendidos que entendidos. Em todo o caso, espírito não necessariamente é algo imaterial, como implica o termo latino e certamente não é algo sobrenatural, mas intrínseco à natureza de várias coisas que o ocidente toma como animadas ou não. Em certo sentido se confunde com “personalidade”, em certo sentido não, uma vez que cada pessoa era entendida como tendo mais de um espírito, provavelmente.
Todavia, os espíritos eram os principais agentes causadores de doenças e mal-estares e poderiam colocar pequenos ossos e outros agentes que causam dor nos corpos dos humanos, o que requeria o trabalho dos paîé para os retirar.

Anhã e îurupari aparecem certamente entre os cronistas como espíritos malignos, mas esse não parece ter sido necessariamente o caso para os cognatos de Anhã entre os povos Tupi contemporâneos. Todavia, espíritos poderiam perseguir e causar mal aos humanos, principalmente de noite, que por isso levavam fogo consigo quando saíam ― além de dormir com uma fogueira acesa. Em alguns casos Anhã e Îurupari parecem ser sinônimos, indicando uma figura singular, um nome próprio, em outros parece mais que îurupari são uma classe de espíritos os quais são particularmente malfeitores. Os Azáṅ Tembé-Tenetehara são chamados explicitamente de Tamúi, que significa literalmente “avô, ancestral”, o que complica a questão da dualidade apresentada pelos cronistas.

Paîé
O paîé é o curandeiro par excellence entre os Tupinambá. Parecia se diferenciar do karaíba por ser dedicado a uma aldeia em especial em vez de sair em peregrinações. Através do uso da fumaça de *petyma, sangrias, extração de ossos e pedras, operava curas. Se formos levar em conta os Araweté, o paîé, assim como o karaíba não era totalmente humano, mas também um espírito. Se diferenciaria por uma “potência ou essência de paîé” (ɨpeye em Araweté), que não seria comum aos humanos mas o seria aos espíritos. Seu treinamento essencialmente envolvia jejum e abstenção sexual, requerido também para determinados trabalhos.

Terra sem mal
Os Tupinambá parecem ter sido considerados como tendo perdido um estágio anterior do mundo, no qual ele produzia toda a espécie de abundâncias, como caças e colheitas que eram disponíveis sem esforço, com ferramentas rurais que trabalhavam sozinhas, etc. A busca ao retorno a esse lugar, que era material e não ideal, um ponto geográfico e não estágio ou premiação moral, moveu vários povos e aldeias em busca dele, guiados por karaíba que prometiam ajudar-lhes a encontrar além-mar, em várias direções, a oeste ou leste, ou ainda, como entre os Apapokuva, através da dança incessante que deveria tornar o corpo leve para atingir a ele no alto do céu. Os Tembé-Tenetehara também falam de um Ikaiwéra, que não ficava tão longe da aldeia deles, mas que raramente era atingido por algum humano. Lá viveriam o fundador Maíra e seus filhos, e as pessoas ao ficarem velhas, tornavam-se jovens novamente. Esse local possuía algumas doses de platonismo, se formos o entender como um “local perfeito”, mas como já mencionado, não era um local transcendental, como na filosofia grega. Infelizmente, a busca por esse local levou diversos povos a penúrias imensas, e as expedições proféticas de karaíba que prometiam encontrar a Terra sem Mal foram especialmente comuns em face do invasor europeu.

Petyma
Tabaco ou petyma é uma planta essencial na cultura Tupinambá; o sopro da fumaça da petyma é que fazia os maraká falarem, sobre doentes os paîé Tupi e Guarani ainda curam nos dias de hoje da maneira relatada pelos cronistas, além de ser usado em todo o tipo de purificação e bençãos.

Dividualismo
Certamente os Tupinambá formavam personalidades via dividuação e não individuação. Isso significa que eles tinham uma epistemologia relacional, isto é, que reconhecia personalidades naquilo com o qual os seres humanos interagiam, além de eles mesmos. Por um lado, o dividualismo fazia com que os Tupinambá de determinada aldeia ou confederação dessas se vissem como um corpo comum, por outro, eles estendiam essa humanidade, isto é, sua própria sociedade, a tudo aquilo que lhes proporcionava a manutenção dessa sociedade mesma, fosse humano ou não, fosse biologicamente vivo ou não.

Perspectivismo
Além disso os animais viam a si mesmos como humanos e os humanos como animais de caça ou *jaguares, dependendo da posição deles na cadeia alimentar em relação aos seres humanos. A aparência animalesca com que esses seres surgem para nós é apenas uma pele, sua real identidade humana permanece subjacente a essa pele e eles podem manifestar sua humanidade.

Jaguar
Îagwara é o nome em Tupi antigo para “onça”. Por ser o maior predador da América do Sul, assumiu uma posição central no pensamento indígena. Todavia, em comparação com grandes predadores de outras regiões, como o urso no norte, o jaguar não foi usado pelos Tupinambá para alimentação ritual, e quando caçado era invocado que não buscasse *vingança contra os humanos. Em alguns povos contemporâneos assume o papel mais comumente atribuído ao *urubu como guardião do *fogo. Jaguares são geralmente os seres que devoram a mãe dos gêmeos míticos entre os povos Tupi, mas entre os Tupinambá é um humano chamado Îagwara (“Jaguar”) e seu povo, que depois são transformados em jaguar, que fazem isso. É comumente visto como um paîé, além de jaguares frequentemente ou ensinarem humanos a caçar, ou darem o arco e flecha, ou ambas as coisas.

Vingança
Valor central na sociedade Tupinambá, a vingança era uma necessidade contra qualquer ofensor, humano ou não. Foi a vingança que criou a necessidade da antropofagia ritual, na qual os inimigos eram devorados não por necessidade alimentar, mas por raiva. A vingança era o motor da sociedade Tupinambá, o que a mantinha em perpétuo funcionamento e guerras fratricidas que antes da invasão europeia tinham a função de reafirmar o ethos desses povos. A vingança era incessante, uma vez iniciado seu ciclo.

Urubu
Em povos Tupi contemporâneos como os Araweté, Tembé-Tenetehara e Kaapor o urubu aparece como senhor do fogo e receptor dos mortos no céu superior. Também é comumente visto como um paîé.

Fogo
É essencialmente o que separa os homens dos animais que se alimentam de carne, como urubus e jaguares, na mentalidade Tupinambá. Thevet repetidas vezes o designa como Tatá, o nome nativo, mas parece superficial afirmar, apenas pelas palavras de Thevet, se os Tupinambá o viram como um ente dotado de personalidade, o que aparentemente não foi o caso.

Tapir
Se minha leitura de Thevet está correta, a besta que ele chama de “ap” deve ser a maneira que ele entendeu tapiîra, o nome Tupi antigo para o tapir ou anta. Seria esse animal que teria guardado o fogo em suas costas após o dilúvio na versão thevetiana das histórias Tupinambá.

Pinturas corporais
Nenhum europeu parece ter dado atenção aos significados das pinturas corporais, e mesmo nos tempos modernos isso ainda teve pouco destaque. Urucu, que produz com suas sementes uma tinta vermelha, e o jenipapo, que produz tinta preta, parecem ter sido as principais tinturas. Suas formas e significados todavia parecem ter sido totalmente perdidos entre os Tupinambá.

Mandioca
Essencial na alimentação dos Tupinambá, servia tanto para a produção da farinha com a qual se produzia o moqueado das caças e pescas, como também a bebida ritual, o *kawĩ, entre os Tembé-Tenetehara a raiz aparece como um presente de Maíra.

Kawĩ
A bebida central na cultura Tupinambá, era feita de mandioca mastigada e fermentada, produzindo assim uma bebida azeda, densa e alcoólica que era tomada por uma noite ou mais, onde não se comia. Igualmente, quando se comia, seja caça ou inimigos, não se bebia. O kawĩ parece ter sido também usado para preparar os guerreiros antes de batalhas, embora em povos Tupi contemporâneos como os Araweté já assumam uma função mais interna e socializante entre os membros de uma aldeia; mas igualmente o kawĩ Araweté é feito de milho.

Hospitalidade
A hospitalidade Tupinambá tinha algumas características essenciais:

1) A chamada saudação lacrimosa. Visitantes distantes ― às vezes não muito distantes, mas muito queridos, às vezes apenas visitantes ― eram recebidos pelas mulheres da aldeia com um choro de alegria, uma emoção profunda pela vinda e consideração do visitante em aparecer naquele lugar.

2) Oferecimento de mulheres. Tanto visitantes que vinham pra ficar, para ser adotados pela aldeia como aqueles que vinham para serem ingeridos em rituais antropofágicos comumente recebiam uma companhia feminina para tornarem-se tobáîara, cunhados.

3) Festas de kawĩ. Geralmente quando visitantes vinham podia ser em ocasiões de bebedeiras rituais. Estas por sua vez podiam ser preparação para rituais de antropofagia.

4) Antropofagia ritual. Geralmente os parentes e aliados de uma aldeia eram convidados a tomar parte na morte de inimigos que seriam comidos.

Ritos de passagem
Nas situações liminares da vida Tupinambá, ou seja, no nascimento de uma criança, na passagem da infância para a puberdade e após a morte de um prisioneiro que seria comido pela aldeia, em geral as pessoas consideradas figuras centrais nesses atos eram afastadas do contato coletivo por algum tempo, o chamado resguardo, e tomando diversas precauções. No caso do nascimento da criança tanto pai como mãe afastavam-se dos trabalhos e esforços e evitavam contato com o solo, algo que é visto também no caso das meninas-moças após a primeira menstruação e os matadores. Essas ocasiões podiam também envolver festas de kawĩ e danças e cantos por dias.

Morte
A morte era um assunto complexo; a rigor o morto era velado com lágrimas por meses ou mesmo anos, e no caso de mulheres essas tinham seus cabelos raspados quando iniciavam e quando terminavam o luto pelo marido. Além disso, o morto era amarrado e inicialmente parece ter sido sempre enterrado no próprio lugar onde vivia, dentro da própria habitação, embora no começo do período colonial esta prática já estivesse em transição, e os enterros fora fossem mais comuns.

Pós-vida
As noções de “pós-vida” como apresentadas pelos cronistas parecem um tanto confusas e misturadas com suas próprias. Existe uma afirmação veemente de que os Tupinambá acreditavam na imortalidade da alma, em um paraíso extraterreno, mas tudo isso me parece no mínimo discutível.
Parece que alguma noção de reencarnação de avós existiu entre os Tupinambá, que poderiam dar os nomes dos antigos aos novos.

A alma todavia era essencialmente vista como tendo ao menos duas partes, uma que se ligava ao céu e a outra à terra após a morte.

Sol e Lua
Como já mencionado anteriormente o sol parece mais ou menos ligado ao herói fundador, em algumas passagens de Thevet sendo identificado com Maíra-poxy, em outras sendo uma figura autônoma (Kwarasý). Todavia sua posição de proeminência em relação a quase todos os outros astros celestes é clara, uma vez que ele aparece dando ordens.

Todavia, é a lua (Îasý) que aparece em Thevet como a superior dos céus e astros celestes, mas não aparece necessariamente como um ente dotado de personalidade.

Em outros povos Tupi-Guarani contemporâneos e extintos aparecem ambos de forma um pouco conflitante: embora na maioria dos casos sejam o sol masculino e a lua feminina, existem exceções, como o Zahy Tembé-Tenetehara e a lua entre os Kaapor que são masculinos, por exemplo.

Aparentemente, apesar de todas as disparidades de visões duas características uniriam as representações da lua e do sol nas Américas: a) a Lua sempre é igual e diferente de si mesma, isto é, ela sempre tem uma essência que pode ser boa ou má, mas que nunca é só boa ou só má; e b) o Sol que sempre é igual a si mesmo, isto é, se ele é bom, ele é só bom, se ele é mau, ele é só mau.

Paranã
O mar ou Paranã foi formado pela chuva mandada por Monã para apagar o fogo que consumia a terra. Paranã significaria “amargura” e seu sabor salgado seria devido às cinzas do incêndio causado pelo fundador.

Danças e cantos
Sem dúvida danças e cantos são um dos aspectos mais marcantes das culturas indígenas, todavia eu ainda conheço sobre isso insuficientemente.

Basicamente os cantos parecem ter sido aprendidos “das árvores e do vento” e testados pelos indígenas; quando aceitos, eram passados de geração em geração. Aparentemente foram de dois tipos distintos: uns com letra e outros que envolviam apenas vocalização. Em ambos os casos o principal e quase sempre único acompanhamento da voz entre os indígenas sul-americanos fora dos Andes eram os maraká, as palmas das mãos e dos pés.

Os cronistas não parecem ter entendido bem as ocasiões nas quais os Tupinambá iniciavam suas cantorias e festas; aquilo para eles pareciam rituais “bárbaros” e quase que espontâneos, o que complica entender as ocasiões que demandavam tais cerimônias. Entretanto, aparentemente ritos sazonais não foram exatamente uma característica da cultura Tupinambá, o que deixa nos deixa um hiato para a reconstrução prática.

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